domingo, 20 de abril de 2014

Muda Voz


Muda voz
Começo fazendo uma crítica que não fala tampouco se cala.  Ela vai sim, aos poucos, emudecendo, a cada letra que se agrupa para formar uma palavra; ao conjunto de palavras que formam uma idéia; ao conjunto de idéias que formam um texto; e, por ai que se vai, textos enriquecem e formam conceitos.
A controvérsia da comunicação escrita surge da incessante necessidade em tentar explicar as coisas e, não conseguir. É que talvez esse tipo de linguagem carregue em si um mal à impossibilidade de esclarecer o todo. Quer dizer, quanto mais explicações, mais e mais elementos são apresentados, logo, mais duvidas e novos questionamentos que surgem nesse labirinto de ideias. Dessa forma, à medida que vou escrevendo me sinto cada vez mais desacreditado. Pois não é aceitável para mim o absurdo que se opõe, e a isso, me oponho com uma escrita que se contrapõe. Assim, tipo um espelho que não sei afirmar se é crítica ou constatação. Essa dúvida, assim acredito, cria uma voz sem eco, pois não sei se ecoa nas pessoas. Uma vez que pareço um solitário em meus comentários. Quando não, rara às vezes, conheço a opinião do outro, o meu interlocutor.
Talvez por estarem hoje às pessoas tão atarefadas ou quem sabe só se interessem por absorver um mínimo dentro de um máximo. Quero dizer, talvez sejamos leitores de manchetes e de tiras bem sacadas em redes sociais. Quem atualmente quer se ocupar de ler um bom livro. Por isso, penso e creio mesmo que sou uma muda voz, embora dissonante, a destoar no vácuo. Sou a opinião que não tem peso, estou preso no vácuo da inércia vulgar, do senso comum, no vácuo do silêncio fútil, da futilidade em curtir ou não curtir, ou simplesmente da indiferença mesmo.
Nos dias atuais, as pessoas não possuem as mesmas liberdades de vinte anos atrás. Pelo menos no que se referem às relações com indivíduos próximos, por exemplo, os seus vizinhos. Hoje, acredito, o medo e a pressa são vilões e ou heróis da indiferença nas relações humanas.
 A modernidade oferece outras soluções, talvez saídas mesmos. Podemos hoje conhecer pessoas nunca sonhada antes. As comunidades virtuais que aproximam pessoas distantes é a mesma que cria barreiras individuais. Antes quando discordávamos de uma pessoa, tínhamos a oportunidade de dizer isso pessoalmente e debater com ela a respeito dos pontos discordantes ou quem sabe, simplesmente deixar pra lá mesmo. O fato é que as pessoas eram tangíveis. Hoje não, assemelham-se a fantasmas estáticos a espera de um toque no teclado. Assim tudo se resume a curtir, ignorar ou excluir. Talvez, quem sabe, sejamos pessoas muito mais sínicas que tempos atrás. E o meu silêncio, também pode ser o seu, ele advém daí. Dessa incredulidade de uma mudança. Algo que não está em curso. É como saber que a comida oferecida é muito salgada, e de nada adianta reclamar, pois ninguém parece se incomodar. Muito embora, todos sofram com os males provocados pelo excesso de sal. E nesse quadro, Sem muita dificuldade, podem-se ver hipertensos vitimizados por conta do hábito contumaz em saborear toda aquela salina nas refeições diárias. O absurdo para mim é saber que o cozinheiro não gosta de sal. E nem come a comida que prepara diariamente. A única explicação ou justificativa a esse preparo danoso a saúde, talvez seja a existência de proteção ou vantagens recebidas por ele, o cozinheiro, no exercício do seu cargo. Assim, seus ouvidos estão inertes, não dá atenção às constantes criticas e queixumes referente à sua cozinha. Para esse cozinheiro, tanto faz, pois é indiferente a todo mal que seu tempero provoca na sua clientela.
Toda critica, aqui parece silenciada, mas pasmem, muito embora exista um caos instaurado na nossa sociedade. E a situação é tensa. Ela é semelhante a uma bomba que veio a explodir destruindo tudo, mas não provocou sujeira ou mesmo causou estilhaços visíveis. Então me diga, se está tudo em ordem e progresso. Como reclamar desse inimigo invisível? Ou mesmo o que reclamar? E para quem pedir socorro? Assim, Se no mal está tudo bem. Talvez então, a maldade esteja mesmo no ato de criticar o bem. Será?      
Ernandes de Oliveira

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