domingo, 21 de setembro de 2014

A Árvore dos Sonhos - Quinta parte (final)


V


 E, mais uma vez, lá se foram 24h para Gil. Nessa rotina apressada parecia não haver a divisão normal do dia em ciclos do tipo, manhã, tarde e noite. A sua atenção fazia existir momentos como a hora de acordar, da refeição e de dormir. Quando já havia escrito um bom número de páginas, resolveu parar e ler o que tinha feito. Começou de um ponto qualquer, foi logo depois do evento da cigana. Estava escrito lá. O homem de nome Manoel morreu, mas não depois de sete dias após ter iniciado a poda da árvore.
Ele faleceu no primeiro dia. Antes mesmo de derrubar o primeiro galho. É que ele teve uma visage, a visão de um galho enorme caindo sobre o seu corpo. Ai enfartou e morreu aos pés da árvore intacta. Gil percebeu que tudo, tudo não passara de um sonho. Um sonho de um morto que pensou ter lutado sete dias contra uma imponente árvore. Ele ficou muito surpreso com o que acabou de descobrir, pois, ao prosseguir na leitura, a grande constatação. Não havia leitura, nem nada escrito, nenhuma palavra. Era tudo um sonho confuso que fora interrompido bruscamente com um grito de “ACORDA MENINO!!!” (Era sua mãe chamando-o para café da manhã.)  – dormindo assim vai perder o seu domingo. Tá sonhando com o quê? A morte da bezerra? Então obediente e assustado, mais que depressa se levantou e em seguida, ligou o rádio. Tocava a música de uma banda antiga dos anos 90, uma que nem existe mais “Vagabundo Sagrado”. Enquanto isso o locutor todo entusiasmado, durante a vinheta do programa, noticiava a chegada da primavera. A estação das flores, período do ano em que as árvores ficam mais bonitas e coloridas. E por falar em árvore, Gil foi verificar no calendário para saber que manhã estranha era aquela. Após ler, pensou: que perfeito! Era 21 de setembro, O Dia da Árvore. Na folha do calendário, entre aspas, constava um provérbio da natureza com dizeres mais ou menos assim: “Serve a quem acredita na natureza, uma árvore, não é só um ser vivo. É um templo, e como tal, não deve ser profanada com a sua derrubada, pois, ao derrubar, não se derruba só uma planta. Está sim, matando mais que uma vida. Com essa atitude, mata-se a esperança; o futuro; quem faz isso comete o absurdo suicídio das gerações futuras.” Gil era do tipo que acreditava nisso. Para ele, essas palavras serviam de explicação e consolo a toda história e as imagens de árvores nos sonhos. Talvez não haja mesmo uma justificativa plausível. Quem sabe não seja uma ideia fantasiosa ou o apenas o apelo da natureza que ainda viva, respira.                   


Ernandes de Oliveira

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