domingo, 16 de novembro de 2014

N’alma cabocla, o vácuo entre nós, claro!

Provocando o poeta, quem sabe a poesia termine em direitos
Apresentando a lida, a contenda contendo-conteúdo
Da estrada, a quebrada é canto percorrido  
Pros que não negam a luta do caminho
Nesses versos, és vero, não tem nenhum engodo
Sou caboclo, preto, Ketú, Jege, Nagô,  filho de orixás
Essas linhas áridas descendem de outros agora.
Ecos do eco, vapor que na imaginação maquína
Repele culturas nauseabundas de longínquas auroras
Daqui o braço abraça a mão criativa da mãe África
Feito bicho sofrido, no culto a vida renascendo,
Responde o ser com sua cor e sua dor
Irmanados, encontra almas que se declaram negras
Brancos que aderem, querem ser os maroto.
Mesmo com a mãe branca, nasci outro alvo
Ainda que fosses no discurso, a boca clara, não teria vez,
Não pareceria um de voz, negando a minha tez.
Seria um branco opaco, do discurso calado.
Sem realidade na voz, és mudo, sem mundo
Na clausura social, o falso alvo é o negro vilipendiado
Só tens a senzala meu nego, e agora! És negro?
Ainda que adjetivos rotulem, a cor fugidia, negada
Na ditadura, firmada o feio registro pardo
Que gente estranha, renegar o que nem é fardo...
Herdamos esse conceito insosso café-com-leite
Querendo esconder, a sociedade todo mau conceito.
Oh! Oh! Atingimos a satisfação linguística, o deleite
Conseguimos negar a inculcação mal fadada do preconceito
E nessa, por gerações a fio, o brasileiro se engana com estrangeiro
A televisão, não desperta, destrói a auto-estima do negro com seus veios
Produz seus palhaços, serviçais, marginais e outros fantasmas subservientes...
Até quando tolerar esses falsos porta-vozes?
Da espera a luta, a esperança alcançada
Quiçá o povo há de se espelhar em outras novelas
Enxergando na mídia o vácuo de vil malogro que nega verdades
Dessa mesma sociedade enganadora que apascenta e mata
Cria seus verbos inúteis “refletir”, “constatar” que, sem a ação,
Só alimentam a imagem da beleza distorcida, exótica
Mas negro reage, renega quem despreza sua identidade
Sabe que não há outra porta, sua voz é a própria carne crua.
Negro! É hora de estufar a voz: tome partido e lute por seus...

 Ernandes de Oliveira

2 comentários:

  1. muito bom ,ernandes , castro Alves acharia seu poema muito inspirado .isto mostra que a luta da negritude não parou no tempo e nem na historia ,ainda temos uma mídia estereotipada ,colando o negro em papel subserviente . sei que vc fez algumas edição no poema original .Mas ainda possui um conteúdo,não muito distante do primeiro .
    2 min · Gosto

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  2. Antonio obrigado pelo comentário. Gosto de pensar que também o Cruz e Sousa talvez se sentiria contemplado, haja visto que ele foi bastante discriminado no meio literário apenas por ser negro. Acho que se a televisão fosse, no tempo dele, tão expressiva como é hoje, com certeza, ele seria uma voz a criticar os meios europeus da comunicação brasileira.

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